Aceita bebida?

Semanas atrás recebi da Dbox, uma loja em São Paulo, a foto onde um mobiliário típico dos aviões dos anos 50, compõe um bar muito descolado. É um daqueles carrinhos de catering que passeavam pelos corredores dos aviões, puxados por lindas aeromoças de uniformes, cabelos e maquiagem impecáveis.

Nasci nos anos 50 num bairro bem próximo ao Aeroporto de Congonhas e a imagem desse móvel me trouxe flashes de minha infância relacionados a esse lugar.

Inaugurado em 1936, com uma arquitetura “futurista”, Congonhas 20 anos depois já estava entre os aeroportos mais movimentados do mundo. Nessa época suas pistas foram ampliadas com aterros que formavam morros de terra fofa aonde íamos brincar e escorregar por horas a fio.

A aventura não durou muito. Minha mãe, na segunda vez que voltamos cobertos de terra dos pés à cabeça acabou com a brincadeira com umas boas palmadas. Meu pai, que era louco por aviões, substituiu nossa ida aos barrancos das pistas por passeios ao prédio do aeroporto para ver aqueles monstros enormes subindo aos céus como se fossem feitos de papel alumínio.

Viagem

Enquanto isso, ele nos contava a sensação de estar dentro daquele “bichão”. A viagem era sempre a mesma: a semana com os amigos no Rio de Janeiro. E eu, da sacada daquele edifício que me parecia um palácio moderno, olhava para a pista e os imaginava seguindo em direção à liberdade.

Em minha pesquisa pelo tema desta semana, me deparei novamente com a foto do mobiliário da Varig que tanto me chamou a atenção. Isso me fez pensar em como é interessante o processo de escolha das peças que fazem de nossa casa um lugar único. Essa seleção geralmente é norteada não apenas pelo conforto que nos trazem, mas principalmente pela emoção que despertam em nossas vidas.

Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa