O cachorro não comeu a linguiça

O cachorro não comeu a linguiça

O cachorro não comeu a linguiça

Quando pequeno eu não entendia muito bem essa frase popular:
“(…) do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça”.
Sabia que significava algo muito antigo. Mais antigo até do que esse móvel guarda-comida usado nas cozinhas há mais de um século.

Devo confessar que na cozinha de casa havia um igual, mas vocês devem acreditar que estou longe de completar um século de vida. Está bem, passei de meio século. Pronto!

A você da geração Internet, que nunca deve ter ouvido essa expressão, não ria.
Uma busca no Google te levará ao século XIV, Decameron, Boccaccio e… cachorro com lingüiça. Expressão usada depois para dizer que algo não valia à pena ser feito.

Resgate

Mas valeu a pena resgatar a função do velho guarda-comida para desenhar o móvel acima. Ficou bonito e com a praticidade dos antigos. O cachorro não comeu a linguiça!

Como o móvel serviria de apoio à cozinha, ao balcão e à mesa, projetei um nicho entre a parte superior e a parte inferior, para apoiar tigelas durante o preparo dos pratos, servir à americana na hora de comer e passar o café na hora da sobremesa.
Esse nicho recebeu espelho e iluminação embutida para valorizar o que é apoiado nele.

E como o espaço era restrito, durante a reforma abri umas das paredes para encaixar o móvel em sua espessura. Assim ele ficou apenas metade fora da parede.

Para dar um aspecto mais rústico, as portas foram feitas em madeira maciça de tipos diferentes: freijó, imbuia, cedro… em um desenho sem lógica.

Como a história do cachorro e a da linguiça.

Décio Navarro, designer de interiores e colunista Arquitecasa